Cover Records - De Mel, De Melão (EP) - Portastatic [2000]


Por ser de lá da Florida, crescido em Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA, Mac McCaughan, fundador da banda indie rock garageira Superchunk, apreciador do rock e do punk de raiz, teve sempre vontade de fazer o que queria fazer e sem ser contrariado. 

Uma prova desta última afirmação é que sua banda, que sempre fez um som seminal, que teve um reconhecimento e um grande sucesso no meio indie no início dos anos 90 com músicas como Throwing Things e Slack Motherfucker, recusou contratos com grandes gravadoras da época para criar o seu próprio selo – o Merge Records – e fazer músicas sem pressões comerciais. Quer outra prova? Então ouça a versão punk rock de Say My Name feita pelo Superchunk, que já foi publicado na nossa seção Top Covers na posição 200, sucesso do Destiny’s Child, o ex-grupo de uma tal Beyoncé

Deu então para entender o que é fazer música com a liberdade desejada sem ser julgado por seus gostos musicais né?

Lá no início dos anos 2000, quando o Superchunk já não apresentava o mesmo folêgo pueril do início da carreira, Mac McCaughan entrou mais de cabeça no seu projeto musical paralelo chamado Portastatic. Criado em 1992 para ser uma espécie de passatempo e um espaço para tirar suas ideias musicais da cabeça em transforma-las em som de verdade, Mac encontrou mais liberdade ainda para fazer o que gostava de fazer. O Portastatic que conta com a participação de músicos rotativo e do seu irmão Matthew, aos poucos se tornou coisa séria. Deste intento saíram trilhas sonoras instrumentais, álbuns de indie rock lo-fi e um EP contendo versões de músicas brasileiras...Você não leu errado: um EP de músicas brasileiras. Quem diria que um cara como o Mac, simbolo da rebeldia garageira, do tipo “do it yourself”, dono de um dos selos fonográficos mais indie do mundo poderia gostar de música brasileira?


Em entrevista dada a revista +Soma número 25 em 2011, Mac McCaughan explica que quando veio ao Brasil no ano 2000 para shows com o Superchunk, as pessoas não entendiam o porquê do interesse dele em comprar discos de Gal, Gil, Caetano, Tom Zé, e outros tantos. Ele explica que sempre achou a música brasileira moderna e excêntrica no bom sentido.

Deste seu interesse peculiar pela música tupiniquim que saiu o EP De Mel, De Melão lançado em 2000 que contém 5 covers maravilhosas de clássicos da música brasileira dos anos 60, 70 e 80.

A abertura dos trabalhos se dá com Baby, a mais famosa canção do disco Tropicalia ou Panis Et Circensis, numa versão com direito a muitas distorções de guitarra. Em seguida vem a versão de Lamento Sertanejo (que para mim é o ponto alto deste EP) que foi muito bem desenhada para riffs de guitarras em substituição ao acordeon da versão original de Dominguinhos em parceria com Gil.


Bem na metade deste trabalho temos uma cover com ares de experimentalismos, com distorções de guitarras, efeitos sonoros de instrumentos não identificados e metais dando um tom quase fúnebre a música I Fell In Love One Day, feita originalmente pelo mutante Arnaldo Baptista. A penúltima faixa é uma versão de Não Identificado, lançado originalmente clássico de 1969 de Caetano Veloso; uma cover bem menos experimental com um órgão bem marcante. E para fechar, uma cover bem puxada para a bossa nova da canção Clareana, sucesso de 1980, composição original da cantora Joyce em homenagem a suas duas filhas Clara e Ana. É de um verso desta canção que saiu o título deste EP (De Mel, De Melão). Mac McCaughan aproveita nesta cover fazer uma adaptação em inglês de um trecho da música.

Na certa por isso mesmo, De Mel, De Melão é muito bom, bem produzido, com ótimos arranjos, cantado por um norte-americano, fã de punk rock, indie, mas com parte do coração arrebatado pela música brasileira. Mesmo nesta imensidão de influencias musicais, que parece caminhar meio que a esmo, De Mel, De Melão faz muito sentido para o fã da boa música brasileira.

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